domingo, 5 de dezembro de 2010

AS PÉROLAS E O AMOR (Um conto oriental)

AS PÉROLAS E O AMOR
(Um conto oriental)

Conta-se que, em um país do oriente, um príncipe árabe, herdeiro do trono, pretendia casar mas estava em dúvida sobre como encontrar uma noiva que o aceitasse por sua pessoa e não pelo fato de ser o príncipe herdeiro.
Após muito pensar, sem chegar a solução para o problema, viajou a outro reino e foi consultar um homem sábio cujos conselhos eram aceitos tanto pelo povo, como pelos nobres, em vista de serem acertados.
Chegando à residência do homem sábio, apresentou-se e expôs-lhe o problema, esperando por uma solução milagrosa ou mágica.
No entanto o homem sábio assim lhe falou:
— Príncipe, desejas encontrar uma mulher que te aceite como marido por tua pessoa e não pelo fato de seres o príncipe herdeiro do trono. Tens dúvidas sobre como poderás verificar a sinceridade das pretendentes que acorrerão a teu chamado. Também não sabes se teu julgamento será acertado.
— Sim — disse-lhe o príncipe.
— Não sei como poderei fazer para encontrar a mulher que me aceite como sou. Ela deverá ter entre 18 e 25 anos de idade, ser atraente, ter boa educação, saber ouvir e, também, falar. Deverá gostar de música, dança e artes. Precisará ter conhecimento da administração de uma residência, de um palácio, pois terá grande criadagem. Não precisará ser a mais bela do reino mas deverá ter boa aparência. Como poderei encontrá-la?
Respondeu-lhe o sábio:
— É simples. Anuncia que viajarás a outros reinos e passarás alguns meses fora do reino. Realiza a viagem e, depois, disfarça-se e retorna como um homem de posses. Instala-te em uma boa residência e, depois de apresentar-te aos cidadãos, informa-os que estás à procura de uma esposa com as características que me descrevestes.
E o príncipe perguntou-lhe:
— Mas como isto poderá dar certo?
O sábio prosseguiu:
— Proclama que, em tal data, receberás as candidatas que se acharem nas condições estipuladas, as quais serão por ti examinadas e testadas.
Respondeu-lhe o príncipe:
— Mas certamente serão centenas ou milhares. Como poderei testá-las?
Esclareceu o homem sábio:
— Não serão tantas assim e, mesmo que o sejam, poderás eliminar a maior parte rapidamente. Aquelas que se apresentarem vestidas suntuosamente, que tenham procurado embelezar-se de forma artificial, que não consigam parar de conversar umas com as outras, as que não tenham educação suficiente para portar-se à altura de tua residência, estas as dispensarás de imediato. Agradecer-lhes-á e dar-lhe-ás uma pequena lembrança, uma jóia simples mas de bom gosto, para que não se sintam ofendidas.
Mais tranquilo, o príncipe perguntou:
— E depois? Como escolher entre as que ficarem?
O sábio explicou-lhe:
— Estas não serão muitas. A estas dirigir-te-ás, conversarás com elas, notarás se tem educação e se sabem tanto falar, como ouvir. Depois, farás que se apresentem músicos, dançarinos, e verás aquelas que sabem apreciar estas artes. Mais adiante as colocarás em pequenas tarefas de administração de um palácio e de criadagem. Aí verás as que têm condições para isto sem abusar da criadagem e dos servos. as que não preencherem estes requisitos, também as dispensarás como as anteriores, dando-lhes uma jóia mais elaborada.
Perguntou-lhe o príncipe:
— E como farei para encontrar, dentre as que sobrarem, aquela que escolherei?
Novamente o sábio respondeu-lhe:
— Destas últimas sairá tua esposa. Serão poucas mas todas parecerão perfeitas. Para encontrá-la realizarás um último teste, cujo resultado te indicará quem deverás escolher.
E o príncipe indagou, ansioso:
— Mas como? Se todas parecerão perfeitas, como poderei escolher?
Disse-lhe então o sábio:
— Leva-as para uma sala onde tenhas expostas jóias de maior valor, feitas em ouro, prata, com pedras preciosas como rubis, esmeraldas, diamantes, pérolas, ágatas ... Dize-lhes que fiquem à vontade e que cada uma poderá escolher uma destas jóias como presente e que retornarão dali para suas residências onde, mais tarde, irás para anunciar tua escolha.
— Sim — disse o príncipe — Mas como esta escolha de jóias irá indicar-me a pessoa certa? Será aquela que escolher uma jóia de ouro? De prata? Com rubis, diamantes ... ???
E o sábio esclareceu-lhe:
— Não, nenhuma destas preencherá o que desejas. A escolhida será aquela que escolher as pérolas pois, enquanto ouro e a prata podem ser fundidos e modificados por um bom joalheiro, enquanto os rubis, diamantes, esmeraldas, ..., podem ser copiados por um bom lapidador, as pérolas são sempre únicas. Elas nunca se repetem. Cada uma é única em si mesma pois não há uma pérola igual à outra.
E perguntou o príncipe:
— Mas porque a que escolher as pérolas será a mais perfeita, a que escolherei?
Disse-lhe, por fim, o sábio:
— O ouro, a prata, as pedras preciosas, simbolizam as paixões fulminantes, os amores transitórios e volúveis, que podem ser modificados por qualquer artesão. Já as pérolas, por serem únicas e nunca se repetirem, por não poderem ser modificadas, simbolizam o amor constante, perene, permanente e modesto, distante de paixões. Aquela que as escolher certamente te amará por seres quem és e não por seres um príncipe. Ela te aceitará, te honrará e será por ti honradas, e a felicidade estará com vocês até o fim dos tempos.
O príncipe, aceitando estas sábias palavras, agradeceu ao homem sábio, retirou-se, e retornou a seu reino onde pôs em prática os conselhos recebidos, encontrando sua esposa com a qual, certamente, viveu em paz e felicidade até o fim de seu tempo.

(Este conto foi criado tendo como base a comemoração de 30 anos de casamento, Bodas de Pérola, recentemente transcorrida).

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